Há quase 30 anos com o apoio da Fundação Toyota do Brasil e da montadora japonesa, o trabalho da bióloga Neiva Guedes para a conservação da arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) vem alcançando resultados importantes para a espécie que esteve ameaçada de extinção até 2014. Apesar da conquista, especialistas ainda enfrentam inúmeros desafios para que a população de araras-azuis continue tingindo o céu do Pantanal sul-mato-grossense.
As mudanças climáticas e a variação nos regimes de chuva têm afetado a reprodução da espécie. De acordo com Neiva Guedes, idealizadora do projeto Arara Azul, as variações bruscas de temperatura e maior concentração, em menor tempo, de chuva têm causado danos em várias partes do mundo. “Geralmente recebemos informações sobre os danos para as pessoas, agricultura ou outras atividades econômicas, mas em relação à biodiversidade, os danos também têm sido enormes. Neste ano, tem chovido mais forte num período que as chuvas eram mais escassas e quando ocorriam, eram mais brandas e suaves”, explica Neiva que também é professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp.
As chuvas de grande volume de água em um curto período de tempo vêm ocasionando alagamento de ninhos de arara-azul e, também, a constante perda de ovos e filhotes, seja por afogamento ou devido às baixas temperaturas, o que acaba afetando o ciclo reprodutivo da espécie, iniciado em meados do mês de julho de 2018. Segundo um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) divulgado em outubro deste ano, na Coreia do Sul, é preciso limitar o aumento da temperatura do planeta para 1,5º C e não mais 2º C para que cerca de 30% das espécies do planeta não corram o risco de desaparecer. Esse é o caso da arara-azul, já que a espécie depende de espécies arbóreas restritas para sobrevivência. “Quanto mais estudamos, mais confirmamos que a arara-azul é uma espécie frágil e muito específica, dependente de poucas espécies na natureza como as castanhas do Acuri e da Bocaiúva para alimentação e do Manduvi, onde instalam seus ninhos no Pantanal. Por isso, elas são extremamente suscetíveis às alterações ambientais”, afirma Neiva.
Por outro lado, as queimadas e perdas de habitat natural têm diminuído. Segundo Neiva esse ano não foi registrado um número grande de queimadas. “As queimadas impactam nas perdas de árvores e ninhos. Porém, a questão climática afeta a biodiversidade como um todo e temos registrado uma maior ocorrência de ocupação de ninhos por abelhas africanizadas, tucanos e outras espécies, o que aumenta a competição por cavidades, perda e predação de ovos e filhotes”, revela Neiva.
Outro percalço que a equipe de especialistas tem que lidar é a questão do tráfico de animais. Em 2017, houve suspeita de coleta de ovos fora da área monitorada pelo projeto Arara Azul, já que países em que a espécie não é encontrada, como a Tailândia, receberam alguns ovos da ave. O Instituto Arara Azul se juntou ao Governo, ao IBAMA e a Polícia Federal para identificação de áreas de risco e para combate ao tráfico.
Adote um Ninho
Para reforçar a importância da conservação da biodiversidade do Pantanal brasileiro e a preservação da arara-azul, o Instituto Arara Azul criou a campanha Adote um Ninho, que, em 2018, está em sua 5º edição. A campanha consiste no apadrinhamento de ninhos, proporcionando a arrecadação de recursos e, então, o fortalecimento do projeto.
As edições anteriores apresentaram resultados significativos. E contaram com padrinhos de pessoas físicas e jurídicas como Carlos Saldanha, que apadrinha desde a primeira edição e, este ano, é padrinho de dois ninhos, além de Ziraldo, Almir Sater, Gabriel Sater e Luan Santana, que encabeçam a lista de padrinhos famosos.
A captação da 5º edição do Adote um Ninho ainda está aberta e todos os detalhes sobre as modalidades de subsídio e do trabalho desenvolvido pelo Instituto Arara Azul podem ser obtidas pelo e-mail diretoriaexecutiva@institutoararaazul.org.br.
Outra forma de geração de renda são os artigos personalizados do projeto. Todo o valor arrecadado é revertido para ações de monitoramento e pesquisas, promovendo a conservação da biodiversidade. Mais detalhes sobre todas as modalidades de subsídio ao trabalho desenvolvido pelo projeto Arara Azul podem ser obtidos pelo endereço: http://institutoararaazul.org.br. Na área “Como Ajudar” é possível fazer pequenas doações e, em troca, receber produtos com a temática do projeto.
29 anos de parceria
Desde 1990, o Projeto Arara Azul conta com o apoio da Toyota do Brasil e, mais recentemente, fortaleceu a parceria por meio da Fundação Toyota do Brasil. “A Toyota e a Fundação Toyota são importantes propulsoras de todo o processo de implementação do projeto Arara Azul há quase 30 anos, e, nos últimos anos, das demais atividades que o Instituto Arara Azul vêm desenvolvendo, apresentando resultados importantes para a conservação da biodiversidade”, afirma Eliza Mense, diretora-executiva do Instituto Arara Azul.
Em 2013, a Fundação Toyota do Brasil financiou a construção do Centro de Sustentabilidade do Instituto Arara Azul, em Campo Grande (MS), com o objetivo de fomentar a sustentabilidade financeira da instituição e ser um local para receber estudantes, pesquisadores, turistas e patrocinadores.
“A Fundação Toyota acredita na seriedade desse projeto e na capacidade de crescimento dessa ação que nos enche de orgulho. Temos certeza que juntos ainda iremos alcançar muitos resultados positivos para a conservação da biodiversidade” afirma Saori Yano, diretora-executiva da Fundação Toyota do Brasil.
O Centro de Sustentabilidade auxilia nas atividades turísticas da região, já que é possível fazer a observação das araras na cidade e no Pantanal. O local recebe pesquisadores e estudantes de várias partes do mundo que se interessam pelos estágios e treinamentos oferecidos pelo Instituto Arara Azul.
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